terça-feira, 22 de maio de 2012

saudades de al

berty, bertinho: acostumei de chamar, e ele respondendo que veio o acaso a nomear um erro Atlântico, que cada lado confundiu seu nome em outro ser, já que sou sempre mais a[ ]berto. enquanto ele-eu todo um poço calado. aquele papo fuinha de colônia, ex-, água de colônia, papinho aranha que a gente transgride, dissolvendo o atrito na língua
passando perfume no pulso acordando

escarpas, aftas, morangos ardendo

antónio no radinho :
se me apetece fico onde estou 
se alguém me impede de partir 
eu vou

entendi logo que tínhamos o mesmo elemento. sou das dunas, ele dos seixos. já sou capaz de escrever, de escrever uma biografia do meu amigo. sou um vidente. mas cecília quem me disse: ah se eu nem sei quem sou,/ como posso esperar que venha alguém gostar de mim? 

sei que nasceu em Sines
mas eu nunca fui lá
me disse pra só confiar nos traços que
passou
tanto tempo vidrado na própria sombra
que desconfia que as retinas sejam noite.

[caio, entrada de diário, 1989].