sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

o dia em que al berto e caio fernando abreu se encontraram

Caio olha para os tênis pretos de Al Berto. novos. eram pretos, mas a calça jeans estava puída de mês. uma gaja saiu do fundo do corredor gritando com alguém que estava encostado na sala --


-- solta a tibúrcia! -- a sombra roxa dela bonita.

eles olhavam para baixo. em meia hora a luz do pôr do sol estava cada vez mais azul nos olhos de Al Berto. Caio pensou que ele fosse virgem. ninguém viu, mas eles estavam na janela. o brasileiro não parava de falar.

-- então nessa noite dormimos todos numa cama só. o sujeito tinha um tatame no quarto, e ficava escutando Gal a noite toda, o mesmo disco, no repeat, naquela coisa. eu me sentei ao lado e li Maupassant a noite toda, e de repente começou a tocar Meu Bem, Meu Mal, é uma música da Gal

veio um garçom novinho com barba feita.

-- obrigado, traz-me a conta se faz favor. desculpa lá, Caio Fernando, foi um prazer, mas tenho que me ir. apanhar o último comboio nocturno.



Caio Fernando Abreu queria se livrar de uma fita K-7, que deu de presente ao Al Berto. no título uma caneta vermelha dizendo FUMO YOGA.

o dia em que al berto e caio fernando abreu se encontraram


-A quantidade de coisa de cocaína que tinha na exposição sobre as drogas na english medical society! - ô do caralho, né? Londres deve ter muita cocaína, tem muita cocaína, porque eu cheirei cocaína no reveillon e depois do Caribe até a Inglaterra, os caras conseguiram mapear o tráfico desde o Caribe. tem umas variações nos preços mais altos, porque se o cara traz de lancha, são pessoas que se propõem a arriscar numa lancha cheia de cocaína indo pra Inglaterra. é o país do capitalismo, é o país da cocaína. e do capitalismo. só tem pirata. só tem ladrão. é uma sincronia jungeana.
al berto assente com os olhos, vinga de lado uma pequena rebolada, tem o interior dos dedos frios, encosta no balcão o braço direito, que, mais pendido, arde feito se houvesse crescido musgo entre suas articulações. não anota mentalmente o verso, não. era só pensar uma coisa que ela estaria lacrada em si, podia recuperá-la quando - o tempo que quisesse. pensa que os homens em todos os tempos se  assassinaram. homens se matam em todas as histórias humanas. os homens continuam se matando em todos os povos. pra que tentar fingir outra coisa? é lucidamente impossível esperar que os homens parem de se matar de uma hora pra outra. então, diz pro caio:

-o sítio em que estás não importa tanto, sabes. estivesses no mar era diferente, podias ser o gajo.

caio pergunta:
-onde que é que é o banheiro aqui?
quando volta:
 -aqui é tudo amiudado, né? é esplendoroso!

dançam